Metodologia de Ensino

1 – Projeto Pedagógico e Social

A Fundação Toque realiza atendimento social e pedagógico em período parcial a pessoas com deficiência intelectual e múltipla (mais de um tipo de deficiência) em pequenos grupos de cinco a oito usuários, de acordo com o grau de apoio que necessitam utilizando-se da teoria das inteligências múltiplas, abordagem ecológica de educação e, desde 2016, a educação emancipadora. Utiliza-se ainda da comunicação alternativa. Dentro deste projeto trabalha-se com Aprendizagem Social e Funcional, Atividades de Vida Diária, Atividades de Vida Prática e Oficinas de Cozinha Experimental, Padaria Artesanal, Produtos de Limpeza e Higiene Artesanais e Ecológicos, Musicalização, que possibilitará uma maior independência e autonomia do usuário atendidos. Todas as oficinas citadas acima são desenvolvidas por pedagogas e educadores sociais.

1.1 – Atividades de Vida Diária, Atividades de Vida Prática e Oficinas de  Cozinha Experimental/Padaria Artesanal e Produtos de Limpeza e Higiene Artesanais e Ecológicos

Nestas atividades as pedagogas, educadores sociais e auxiliares desenvolvem técnicas que possibilitam e facilitam habilidades físicas, motoras que proporcionam maior independência e autonomia em higiene pessoal, habilidades físicas e sociais.

1.2 – Aprendizagem Social e Funcional

Os usuários aprendem o próprio nome, nomes dos pais, endereço de sua residência, número telefônico, bairro onde mora, para possuírem o mínimo de conhecimento necessário para a sua comunicação e vivência na comunidade/território onde está inserido.

1.3 – Musicalização

A musicalização é o processo de construção do conhecimento musical, cujo principal objetivo é despertar e desenvolver o gosto pela música, estimulando e contribuindo com a formação global do ser humano. A musicalização é feita através de atividades lúdicas visando o desenvolvimento e aperfeiçoamento da percepção auditiva, imaginação, coordenação motora, memorização, socialização, expressividade, percepção espacial, etc. O lúdico funciona como elemento motivador e de estímulo para o desenvolvimento da expressão musical onde a imitação, a percepção e a criação são os principais elementos deste processo.

A Percepção musical é a capacidade de perceber as ondas sonoras como parte de uma linguagem musical. Envolve especialmente a identificação dos atributos físicos do som, como volume, timbre e afinação (percepção sonora), mas também elementos musicais como melodia (percepção melódica) e ritmo (percepção ritmica).

 O projeto de musicalização que vem sendo experimentado e será desenvolvido pela Fundação Toque está relacionado a uma motivação diferente do ensinar, em que é possível favorecer a auto-estima, a socialização e o desenvolvimento do gosto e do sendo musical. É através das atividades lúdicas que o aperfeiçoamento da percepção auditiva, imaginação e expressividade serão realizados.

1.4 – Contação de Histórias

A contação de histórias é uma atividade fundamental que transmite conhecimentos e valores, sua atuação é decisiva na formação e no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.

A contação de histórias está ligada diretamente ao imaginário infantil. O uso dessa ferramenta incentiva não somente a imaginação, mas também o gosto e o hábito da leitura; a ampliação do vocabulário, da narrativa e de sua cultura; o conjunto de elementos referenciais que proporcionarão o desenvolvimento do consciente e subconsciente infantil, a relação entre o espaço íntimo do indivíduo (mundo interno) com o mundo social (mundo externo), resultando na formação de sua personalidade, seus valores e suas crenças.

A história tem um papel significativo na contribuição com a tolerância e o senso de justiça social, podendo criar novos rumos à imaginação, podendo ser eles bons ou ruins. Além de as histórias divertirem, elas atingem outros objetivos, como educar, instruir, socializar, desenvolver a inteligência e a sensibilidade.

As atividades são realizadas pelas pedagoga/educador social utilizando como ferramenta livros de histórias infantis e fantoches.

1.5 – Oficinas de Esporte Inclusivo – Judô, Taikondô e Capoeira 

São inúmeros os benefícios da prática esportiva para a pessoa com deficiência intelectual. “Podemos destacar o desenvolvimento de habilidades cognitivas, motoras e sensoriais e da função cardiovascular.

O esporte contribui para a superação de desafios, estimula a concentração, o equilíbrio, a coordenação motora e a socialização.

Judô é um estilo de arte marcial esportiva de origem japonesa.

Como uma técnica de defesa pessoal, o judô destina-se não apenas ao desenvolvimento físico do judoca (praticante do judô), mas também o seu espírito e mente.

Traduz-se o termo judô como “caminho suave” ou “caminho da suavidade”. E classificam-se os seus benefícios em três blocos: o primeiro refere-se ao condicionamento físico proporcionado pela prática; o segundo diz respeito à disciplina atingida por meio da luta e dos mecanismos de concentração, autocontrole e autoconfiança; e o terceiro se dá no campo da ética e da moral, em que o respeito aos valores apresenta significativa importância.

O taekwondo é um esporte de combate milenar, uma arte marcial. De origem coreana, se destaca pela grande variedade de técnicas que incluem: chutes, cotoveladas, socos e, até mesmo, joelhadas. Conta também com técnicas de defesa pessoal.

Capacidades como flexibilidade e equilíbrio também são melhoradas com o treinamento de Taekwondo. As aulas são realizadas em grupo, sendo uma ótima oportunidade para a socialização e desestressar um pouco da rotina diária.

Mas além do nível físico ou da técnica, o taekwondo representa toda uma filosofia. Essa filosofia se baseia em cinco princípios: cortesia, integridade, perseverança, autocontrole e espírito indomável.

A capoeira é uma manifestação cultural afro-brasileira que mistura diversas instâncias da arte e do corpo, como música, dança e esporte.
A capoeira é uma expressão que mistura a cultura afro e a brasileira e que não tem um conceito único. Afinal, ela pode ser considerada um esporte, uma luta ou um manifesto cultural. Porém, são nítidos os benefícios que a prática tem para a saúde, como redução de estresse e peso, controle da pressão arterial e melhora no sistema cardiovascular.

Todas as práticas esportivas citadas são adaptadas para as deficiências de nossos usuários.

1.6 – Teatro

A arte do teatro vem sendo utilizada como um instrumento de apoio e desenvolvimento dos usuários da Fundação Toque. Esta arte associa-se à imagem como uma fonte eficiente no desenvolvimento das inteligências múltiplas, tornando a vida de todos os usuários mais igualitária. Com a arte cênica e o pensar na imagem, a Instituição desenvolve noções espaciais, coordenação motora, senso crítico, elaboração de pensamento, criatividade, criação individual e coletiva, valorização ao indivíduo onde as técnicas corporais, orais, mentais e perceptivas são desenvolvidas e aprimoradas.

Em 2018 e 2019 com as aulas de teatro em pré-estréia e estréia, atuamos com a peça de teatro “Amazônia”.

1.7 – Dança

A dança tem uma grande contribuição no desenvolvimento cognitivo do ser humano, trazendo uma carga de sociabilidade e relacionamento enquanto pessoa no meio. Isso é muito importante quando aplicado como ferramenta da educação.

Desenvolvimento Coordenação Motora

A dança bem aplicada, na forma de trabalhar o corpo, faz com que a coordenação motora seja inserida no aprendizado de quem a pratica. Isso traz uma grande vantagem, pois toda carga de técnica nos movimentos mecânicos se reflete em ganho para o individuo que dança. Ficando assim com uma excelente coordenação motora.

Informação Corporal

Nosso corpo fala, e isso é muito fácil de comprovar. Usamos no mecanismo de comunicação mais de 80% do corpo para nos expressarmos. Quem dança tem facilidade de se comunicar porque esta acostumado a lidar com o corpo de forma íntima. Conhece o corpo que tem e quais são suas capacidades. Então a dança traz uma facilidade extremamente boa para o corpo, enchendo ele de uma informação que carregaremos para toda a vida.

Saúde Orgânica e Mental

Dançar por si só já é um exercício e compõe uma atividade reguladora do metabolismo e funcionamento do organismo como um todo. Traz uma melhora significativa para quem a pratica. Quem realmente ama a dança se preocupa em cuidar do corpo como um todo, porque necessita dele como ferramenta para executar o que gosta – “dançar”.

Além do mais quando se faz uma atividade dessas com prazer, isso traz uma saúde mental bastante boa. Quando dançamos estamos interagindo com a sociedade, com o meio, colocando nossa mente para trabalhar de maneira positiva, fazendo amizades e colocando uma química boa que o organismo libera, tais como a adrenalina.

Na Fundação Toque adaptamos as técnicas para o trabalho com usuários com deficiência intelectual e múltipla (cadeiras de roda).

1.8 – Arteterapia/Artes

O trabalho desenvolvido em arteterapia é realizado pela psicóloga e tem por objetivo promover o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional das crianças, adolescentes, jovens e adultos que freqüentam a Fundação Toque.

As atividades são realizadas em grupo com o objetivo de estimular a cooperação e integração entre os usuários mas sempre levando-se em consideração a necessidade de cada um deles.

O trabalho é desenvolvido através do lúdico com a utilização de técnicas como pintura, recorte, colagem, desenho, jogos, brincadeiras.

Acreditamos que o lúdico desenvolve a imaginação, o intelecto, a curiosidade/interesse, a cooperação, senso de responsabilidade individual e coletiva, estruturação psíquica e corporal, enfim, promoção do equilíbrio psicossomático.

Do ponto de vista social, através do lúdico prepara-se o usuário para exigências básicas da vida social pois aqueles que estão inseridos no processo devem:

• considerar regras e reconhecer a necessidade de códigos que regulam o comportamento interindividual;
•  cooperar em um contexto em que o sujeito é apenas uma das partes, existindo seu comportamento em função do outro;
• aprimorar a relação interindividual através da solidariedade inevitável.

Do ponto de vista cognitivo, os usuários:

• expressam os meios/procedimentos que constroem;
• enriquecem suas estruturas mentais;
• propiciam um quadro referencial para outras experiências;
• tornam o “erro” observável.

No que se refere ao emocional, o lúdico propicia o domínio de angústias e controle de impulsos.

Nesse sentido, o brincar permite que se teste limites; desenvolve memória e atenção; permite viver em uma ordem social e num mundo culturalmente simbólico, promovendo concentração por longo período de tempo; linguagem e iniciativa.

Dessa forma, acreditamos que com a reavaliação das atividades todos terão oportunidade de expressarem seus sentimentos, de desenvolverem habilidades, levando ao desenvolvimento físico-cognitivo-emocional.

Em todo o trabalho são utilizados materiais referentes às artes plásticas – lápis de cor, guache, diverso tipos de tintas, cola colorida, giz de cera, figuras, retalhos de panos, papel sulfite, paper color, cartolina, papel cartão, papel laminado, papel camurça, jornais, revistas, tesoura, barbante, lã, sucatas diversas, algodão, pincéis de várias espessuras, lixas, pastilhas de vidro, biscuit, madeira e outros.

As aulas são desenvolvidas uma vez na semana e referem-se sempre a uma temática específica do mês, utilizando-se como gerador, as datas comemorativas. Iniciam-se com um conteúdo onde procura-se desenvolver a elaboração de pensamento, sentimentos e movimentos que culminam com a expressão artística destes.

1.9 – Terapia Ocupacional – Comunicação Alternativa

A Terapia Ocupacional é um campo de conhecimento e de intervenção em saúde, educação e na esfera social, reunindo tecnologias orientadas para a emancipação e autonomia de pessoas, que por razões ligadas a problemáticas específicas – físicas, sensoriais, mentais, psicológicas e ou sociais – apresentam temporariamente ou definitivamente, dificuldade na inserção e participação na vida social. “As intervenções em Terapia Ocupacional dimensionam pelo uso de atividades, elemento centralizador e orientador na construção complexa e contextualizada do processo terapêutico.”. Na Fundação Toque são realizados os seguintes procedimentos específicos:

• OFICINA DE AVDs e AVPs: O Terapeuta Ocupacional que trabalha com AVD, tem como objetivo: proporcionar ao paciente, uma vida menos dependente, estimulando-o a alcançar um nível máximo de independência, tanto nas atividades de cuidados pessoais, como nos afazeres de sua vida doméstica e social.
• ATIVIDADES LÚDICAS – Propõe uma visão dinâmica e global da criança, possibilitando uma reflexão sobre a importância do brincar e o papel do terapeuta ocupacional perante esta atividade;
• INTEGRAÇÃO SENSORIAL: É o processo neurológico que organiza as sensações do próprio corpo e do ambiente de forma a ser possível o uso eficiente do corpo no ambiente. Isso é possível através da participação do indivíduo em atividades sensório-motoras. As áreas trabalhadas são: motora, sensorial, perceptiva, cognitiva, visual e social;
• COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA: O termo Comunicação Alternativa e Ampliada é utilizado para definir outras formas de comunicação como o uso de gestos, sinais da língua de sinais, expressões faciais, o uso de pranchas de alfabeto ou símbolos pictográficos, até o uso de sistemas sofisticados como o computador com voz sintetizada ou tablets. Utilização da tecnologia assistiva.

1.10-Fisioterapia – Educação Condutiva como instrumento para desenvolvimento global de pessoas com Paralisia Cerebral

Ao repensar a abordagem terapêutica e pedagógica que vem sendo praticada no atendimento de crianças, adolescentes e adultos com distúrbio neuromotor, idealizamos o projeto ora apresentado que busca incorporar inovações neste atendimento, apoiando-se nas seguintes perspectivas:

• atendimento integral buscando uma abordagem na qual as diversas áreas atuem de forma multidisciplinar e integradas entre si e não como resultado de sobreposição ou somatória de diversas ações pontuais.
• atividade em grupo onde o processo de ensino-aprendizagem requer para o seu desenvolvimento e enriquecimento a troca de informações e experiências entre os participantes.
• desenvolver o “ser social” de forma que a sua inclusão na sociedade é uma meta a ser atingida através de atividades praticadas no dia-a-dia e do exercício da cidadania.
•  inovações tecnológicas por considerarmos imprescindível a busca de tecnologias que possibilitem a aquisição de novas habilidades para crianças, adolescentes e adultos, aumentando sua independência e facilitando sua comunicação.

Este projeto foi inspirado na abordagem adotada pela Eucação Condutiva desenvolvida pelo médico e pedagogo húngaro Dr. Andréas Petö que adaptando-a à realidade brasileira e agregando a essa todas as inovações que possam vir a contribuir para o desenvolvimento neuromotor. “É um método educacional integrativo e multidisciplinar que lida com indivíduos com distúrbios motores de ordem neurológica. Tem como ponto central a FUNÇAO como atividade sócio-biológica significativa que proporciona ao indivíduo a realização de seus objetivos práticos. O Dr. Petö concebeu um pensamento ético, humanista, que possui como princípio o atendimento do ser como um todo, que não deve ser pensado de forma reducionista, de sintomas que devem ser corrigidos e sim como alguém capaz de ter ações para satisfazer seus desejos e necessidades.

A população a quem se destina este projeto necessita de um espaço que valorize a posição ativa diante do estímulo que o ambiente exerce sobre o indivíduo. Assim, um profissional especial, o condutor , reúne todas as suas experiências e conhecimentos de diversas disciplinas, aplicando diferentes técnicas com o objetivo de que a criança consiga maior independência funcional, tendo consciência que entre o estímulo do ambiente e a resposta que a criança possa nos dar é necessário o papel do mediador, o qual pode enriquecer o processo cognitivo-motor da criança levando-a a dar uma resposta mais precisa e mostrar seu potencial.

A Educação Condutiva contém princípios básicos de trabalho e alguns são citados a seguir:

• O GRUPO – o trabalho eclético que propõe a Educação Condutiva permite a combinação entre o trabalho em grupo a favor do progresso individual. È uma linha de tratamento individual em um contexto grupal. As atividades são desenvolvidas em grupo enfatizando as soluções de cada indivíduo. O grupo é usado como instrumento pedagógico, é uma das características do método que contribui na MOTIVAÇÃO da criança. Além disso, é um modelo do meio ambiente, uma comunidade bem organizada estimula um processo de aprendizagem mais ativo. A troca e a parceria são fatores importantes na Educação Condutiva. O indivíduo desenvolve uma responsabilidade não só sobre si mesmo mas com os outros membros do grupo e do todo. O grupo torna o indivíduo mais livre de suas próprias cobranças ajudando, assim, a alcançar seus objetivos.

• A INTENÇÃO – a intencionalidade é o pré-requisito da aprendizagem das várias habilidades, portanto, a intenção é outro princípio da Educação Condutiva. A função cognitiva de solução de problemas é importante porque a aprendizagem – inclusive a aprendizagem do movimento – não é uma reprodução mas um processo construído. A disposição para a solução de problemas deve ser formada e por esta razão são considerados importantes os aspectos

dinâmicos e ambientais da tarefa. A fim de se despertar a intenção é necessário um ambiente estimulante, sendo ele substancial, com conteúdos reais.

• A ROTINA DIÁRIA – os programas de atividades são elaborados de forma a reproduzir uma seqüência de atividades de vida diária. Fator considerado essencial na aprendizagem da intenção, os programas diários devem formar um todo estruturado. Esta estrutura em planejar, organizar e executar o programa é o que torna possível que cada parte tenha significado para o indivíduo, desde que elas sejam ligadas num dia como um todo. Para cada ação uma razão e um significado através da unidade e continuidade do programa.

O projeto é desenvolvido com usuários com paralisia cerebral, duas vezes na semana.

As atividades motoras planejadas são transferidas para a rotina do dia de atividades em sala de aula, com a produção de movimentos intencionais em atividades desenvolvidas no computador, na prancha, na alimentação e nas atividades de vida diária.

1.11 – Planejamento Semanal dos profissionais com os usuários

Semanalmente, toda quinta-feira no período matutino e sexta-feira, no período vespertino, acontece o planejamento de atividades para todas as oficinas realizadas na Fundação Toque.

Nestes momentos também são resolvidos conflitos que aparecem entre os usuários e profissionais, nas atividades desenvolvidas.

Para o planejamento utilizamos a metodologia da educação emancipadora  que visa empoderar o usuário da possibilidade de tomar as decisões sobre sua vida, respeitando para isso as características e limitações intelectuais, emocionais e físicas de cada um dos atendidos.